No dia 5 de novembro de 2015, a barragem da mineradora Samarco se rompeu
e uma onda de milhões de metros cúbicos de lama devastou municípios da cidade de Mariana (MG). Essa tragédia ambiental, a maior já ocorrida no Brasil, foi usada como pano de fundo para Ana Rapha Nunes escrever o livro infanto-juvenil “Mariana” (editora Inverso).
Na história, esse é o nome da protagonista, uma menina de 12 anos. É pelo seu olhar que a tragédia ambiental é vista. Essa pré-adolescente leva uma vida pacata e alegre, rodeada pela natureza, na pequena cidade do interior onde vive. Seu grande sonho é conhecer o mar. Porém, um mar de lama atravessa seu destino.
SA: Por que escrever sobre uma tragédia ambiental para crianças?
ARN: Acredito ser importante tratar de certos temas com as crianças e os adolescentes. É nessa época que devemos começar a refletir, a formar o nosso pensamento crítico para que, quando adultos, possamos agir e estar preparados para as dificuldades que encontraremos ao longo do caminho. Essa tragédia é algo que marcou o Brasil e não pode ser esquecida. Até por isso, apresentá-la a esse público é fundamental.
Com 35 anos, a carioca Ana é professora do ensino fundamental e superior em Curitiba (PR), onde reside. Conta que, ao contrário do que possa parecer, seu livro não é sobre ecologia, mas sobre superação e esperança. A tragédia, segundo ela, foi usada como pano de fundo para falar sobre dor, transformações e solidariedade.
Mariana não foi inspirada por nenhuma criança em particular que tenha vivenciado a tragédia. Todos os personagens são fictícios. Alguns fatos, reais. A lama muda radicalmente a vida da protagonista, que descobre ter mais coragem e determinação do que imaginava.
“Acredito que a tristeza, assim como outros sentimentos, faz parte da vida e não pode ser escondida das crianças, até mesmo porque elas começam a vivenciar tristezas muito cedo. Não podemos colocá-las em uma redoma, mas ajudá-las a lidar com as próprias emoções. O livro não resultou em uma obra triste. É claro que tem momentos tristes, que despertam a nossa emoção, afinal, o tema principal da história é a tragédia. Todavia, a mensagem da obra é de esperança e superação”, afirma Ana que lançou o livro (ilustrado por Karen Basso), em novembro do ano passado, em Belo Horizonte, a capital mineira, quando a tragédia completou um ano. Agora, ela sonha com a possibilidade de promover um lançamento também em Mariana.
Integrante da Associação de Escritores Infanto-Juvenis (AEILIJ), Ana fez sua estreia como autora com o infantil “A Lua Que Eu Te Dei” (editora Appris), que fala sobre amizade, exatamente na véspera da tragédia de Mariana, o que, sim, fez com que ela sentisse vontade de escrever sobre o tema.
“Sou professora para essa faixa etária infanto-juvenil há mais de dez anos. Quando decidi que ia escrever um livro, tinha que ser para eles. Identifico-me muito com essa idade e me sinto à vontade em falar com eles. A literatura nessa fase da vida é muito importante. É quando vamos despertar o gosto pela leitura e poder contribuir com isso é maravilhoso”, afirma ela que já está com mais dois originais prontos, voltados para crianças, e se dedica, no momento, a escrever uma história sobre garotos.
A tragédia de Mariana, um ano depois, em reportagem do G1
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